O chão brilhava encharcado e um cheiro a metálico pegava-se a tudo. Tudo era metal naquele momento. Duro, complexo, brilhante, frio e impenetrável. Era um misto do medo de chegar, da dimensão da cidade e dos solavancos do avião que ainda ecoavam na minha cabeça.
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"Há memórias por todos os lados. Nas paredes, nos muros, nos bancos, nas árvores. Tudo me recorda histórias, me faz reviver momentos de um passado que já não existe. E o que fica é só isso. As histórias que se escrevem na nossa mente. São muitas. Talvez daí o peso.
E chove, com uma intensidade como só acontece por aqui. E o céu começa a rugir. Mas nem tudo isso consegue lavar as memórias. Elas ficam, desgastadas pelo tempo como as marcas daquele coração pintado em momentos de inocência primaveril que quase roçava a loucura (e foram tantos os momentos de infância tardia vivida debaixo daquelas árvores).
Mas há nestas memórias uma solidão que quase ensurdece de tão estrondosa que é. Todas as almas só estão nas memórias da minha. De resto são lugares despidos de gente. E são as imagens do que permanece que desenham na minha mente a alma do que já se foi e quase posso voltar a sentir as emoções. Mas no fundo são só as formas inanimadas que serviram de fundo a tantas histórias. Essas ficaram naquele momento e o resto são só lembranças. Talvez seja esse o peso.
E do céu ecoam estrondos de raiva e cai tanta água, tanta. Será para limpar tudo o que ficou em mim?"
fotos de meiomaio |
Barcelona, Catalunha, Espanha
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