fotos de meiomaio |
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A natureza aqui é quente e húmida. Densa e exuberante.
Naquele dia senti-a nos pés enquanto percorria a trilha da Lagoinha do Leste. Enquanto pisava toda aquela lama escorregadia, me escorriam gotas pelo corpo que não sabia se eram de suor ou da chuva morna que caia sobre as folhas de todas aquelas árvores. E sentia o cheiro. Também o cheiro a terra molhada aqui é mais forte. Tão forte que me fez pensar se aquele cheiro a tanta vida não tinha no fundo um travo de cheiro a morte. A morte e vida sempre tão presentes, que se alimentam mutuamente, e que tira um pouco o peso do final a tudo isso e me faz sentir dentro de algo muito maior, e tão complexo (e divino). Junto com o cheiro que me entrava pelas narinas, a lama que me empastava os pés e a humidade que se pegava ao corpo, o chilrear de um sem fim de pássaros escondidos dentro de todos aqueles tons de verde. E pensava em tudo isto, em toda a vida que palpita ali, enquanto seguia os teus passos e escutava as tuas histórias numa melodia calma e doce do português destes lados. Falavas da viola caipira, dos alambiques da cachaça, das estações do ano aqui, de histórias passadas numa viagem ao Uruguay… E eu seguia-te e enterrava lentamente cada vez mais os pés naquela lama. E neste continente cheio de vida.
No final da trilha um caldo de cana (aquela combinação perfeita entre doçura e frescura) para compensar a caminhada e logo depois uma chuva dessas tropicais, que nos ensopou até aos ossos de uma água quente em pingas grossas. Como é alegre e viva a chuva quente!
Naquele dia despedia-me da ilha onde estive uma semana. Daquele paraíso que me acolheu e me deu tudo. Mas precisava de mais. Ou de menos. Preciso do novo, da descoberta. Talvez as viagens não sejam mais do que o expoente máximo da insatisfação humana. Essa sede (insaciável) de mais, de diferente, de outra coisa. De viver. Porquê o desconhecido, a novidade, o desafio, para sentir realmente que estou viva? Tudo isto torna-se cada dia mais evidente e, ao mesmo tempo, lá no fundo do peito, um sopro leve de melancolia que sussurra pela necessidade de um porto ou um abraço seguro (o teu abraço). E no fundo, são estas estranhas dualidades que tornam fascinante a mente humana.
E a vida.
Ilha de Santa Catarina, Brasil
Fui tão feliz no Brasil. Sou tão feliz, sempre que me lembro dessa tropicalidade. Essa chuva morna de que falas, a cadência doce e cantada das palavras, a comida e os verdes muito verdes.
ResponderEliminarAs tuas viagens são tão bonitas, Ana. Aquela vontade boa de ir, quando aqui chego.
Um beijinho grande para ti. Bons caminhos até ao teu destino.
Mar
Ai querida Mar, e as tuas palavras, sempre tão bonitas...
EliminarObrigada, obrigada! ♥